quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Lula, o "analfabeto" "grosseiro": ou sobre como é ruim ter um presidente que fala com(o) meu empregado

Djamilla Olivério
Caetano Veloso, em entrevista recente, já torna clara a sua escolha política no que diz respeito às eleições em 2010. Mas o faz explicando que o Presidente Lula é "analfabeto" e tem uma fala "grosseira".
Fiquei segundos estarrecida, para depois pensar no que ele quis dizer com esses "adjetivos". Partamos então: Lula é "grosseiro" e "analfabeto" porque fala usando o vacabulário simples, cotidiano, não usa adjetivos conhecidos em sua maioria somente entre os Ilustrados.
Bem, sendo assim, Lula fala de forma que os milhões de "grosseiros e analfabetos" desse país conseguem entender de forma clara. Hoje, o Presidente Rude explica o que é o Pré-Sal e fica claro a importância disso para essa massa de gente esquecida e ignorada pela classe média que concorda com Caetano. Há mais de dez anos atrás, o Presidente Lustrado com palavras bonitas tentou acobertar a vergonhosa venda da Vale do Rio Doce... (quem faz mal para Brasil?)
O fato é que a fala de Caetano expressa o que pensa a classe média contra Lula: "um presidente rude, fala como muitos empregados rudes, muita gente rude que enfeia a vista bonita do mar onde surfa o Leãozinho. Um presidente rude soa como se o meu empregado estivesse dando a mim voz de comando. E a ordem meritocrática do mundo diz que a voz de comando é minha e da minha gente. Não se pode aceitar que um Torneiro Mecânico que não leu os livros que eu li aos 15, aos 30 e aos 60 anos de idade guie o meu país. Não posso aceitar que um homem que chegou a São Paulo como tantos outros do batalhão de pobres que fizeram o seu Êxodo para o sul sente-se no lugar de homens nobres e gente estudada."
É difícil para elite aceitar, eu posso imaginar, que o Brasil melhorou não porque teve Ilustrados no comando, mas porque foi um Rude, Analfabeto e Grosseiro, que fez o país ser respeitado no exterior, fez a economia crescer principalmente para quem ela nunca cresceu, e acima de tudo, é reconhecido sem ter escrito nenhuma obra literária. É esse analfabeto que o mundo reconhece como "Estadista do Ano" e que tem o mais proeminente Ministro das Relações Exteriores, reconhecimento dado no mesmo ano. É esse grosseiro que fez um batalhão de outros grosseiros entenderem que temos mais um presente nas mãos: o Pré-Sal, mas que desta vez, não devemos deixar que Ilustrados os dêem de mãos beijadas para os seus amigos do Exterior. Foi esse grosseiro que apontou um rumo diferente na história do país ao não ser entreguista. Foi o analfabeto quem começou a mudar a situação do Estado enquanto uma colônia do Capitalismo Mundial.
O problema do Presidente Grosseiro, é que aproximou a sua gente do Estado. São os 80% mais difícéis de se engolir...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A inveja de FHC

Djamilla Olivério

Leia a intrevista de FHC cedida em Santa Catarina após a vitória do Brasil para ser a sede dos jogos Olímpicos em 2016:


O governo Lula segue sendo bem avaliado pela população. Qual o segredo, após dois mandatos?

FHC Eu acredito que seja pelo fato de ele, permanentemente, estar falando com o povo. E falando do jeito que o povo entende. O Lula é um incansável propagandista dele e do governo dele. E de bons resultados. É isso.

O senhor reconhece os bons resultados do governo?

FHC – Reconheço os bons resultados da propaganda (risos).

O Rio de Janeiro acabou de ser escolhido como sede das Olimpíadas 2016. Temos competência para promover um evento desse porte?

FHCSe não tivéssemos, teríamos que ter. Agora é o desafio e nós vamos cumprir. O Rio de Janeiro vai ganhar muito com isso. Vamos ter que fazer nosso esforço.

Fernando Henrique Cardoso sente inveja de Lula. E essa inveja é diretamente proporcional aos resultados que o governo Lula vem apresentando, ou seja: quanto melhor é o feito do atual governo, mais a inveja aparece. A todo momento, a luta de FHC para não ser esquecido pela história, ou ser lembrado como o presidente que veio antes do Lula, fica cada vez mais difícil, porque o ex-presidente nada contra uma maré factual.
Como não há mais como argumentar contra o fato de que o governo Lula é o melhor da História do Brasil desde que o Brasil é Brasil, restou ao ex-presidente fazer como todo homem ressentido faz: desqualificar de forma pequena o seu adversário.
FHC bem sabe que o Lula não precisa somente de propaganda para ser o líder carismárico que é. Mas como pode um paulista admitir que o primeiro presidente popular da história do país fez mais do que todos os outros paulistas juntos?
A Olimpíada no Rio de Janeiro é mérito do Governo Lula, que a seis anos trabalha em prol desta realização. Segundo o Presidente do Comitê Olímpico do Brasil Lula é o grande responsável por esse feito. Não há como os paulistas alegarem paternidade com relação aos Jogos de 2016 como tentam fazer nas outras áreas da política nacional. Lula deixará para o país um belo presente de herança.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A guerra da mídia e os inimigos do povo

A guerra entre as duas grandes emissoras brasileiras está a todo vapor. Não há muita novidade nas acusações à Globo, e muito menos nas direcionadas à Record. Mas o ponto interessante é outro. Se aproxima a eleição presidencial e não é difícil imaginar dois grupos de poderosos inimigos do povo por detrás de tal guerra, tentando cada qual usar todos os recursos possíveis, nos quais tecnologia e imoralidade não possuem limites, para argumentar quem é mais canalha. Dá pra imaginar quem são os amigos do bispo bem intencionados em denunciar a 'ditadura da Globo'.
Daqui pra frente, todo mundo é amigo do povo. Do lado de cá, o senso comum da população normalmente se conforma com a máxima de que todos são canalhas. Aí está o problema, pois é assim que se torna obscuro quem são os inimigos. Parece que a guerra é entre eles, duas ou três fatias da elite que querem o poder. Como se não tivéssemos nada com isso. Não percebemos que a guerra maior é deles contra nós. Parece um pouco senso comum isso. Por que falar de política na atualidade torna-se cada vez mais difícil. Os jargões da sociologia oficial são previsíveis e em boa parte estão corretos. Precisamos aperfeiçoar nossas instituições, atuações da sociedade civil tem cobrado do Estado melhores posturas, o mercado tem assumido melhor que o Estado certas funções sociais.
O que falta dizer é que na verdade a guerra maior é das classes dominantes, eternizadas em seus privilégios, cujos efeitos na política nacional, mobilizados geralmente na mídia as vesperas das eleições são apenas parte, contra o povo. Esta guerra maior, de classes, nunca se mostra como tal. No mundo moderno, só nos percebemos como indivíduos, onde cada qual deve perseguir seu destino. Nesta lógica, a relação com a política e os políticos pode ser a do apadrinhamento, a da velha boquinha, onde alguns se salvam.
A coincidência de destinos de indivíduos derrotados na competição social, de um lado, e de outros vencedores, por outro, o que não é por acaso, conforma condições de classe distintas que praticamente se eternizam na história brasileira. De um lado os vencedores tem oportunidades de direta ou indiretamente levarem vantagens relativas do lado dos inimigos do povo. Diretamente, como apadrinhados em nível nacional ou local, e indiretamente, nas vantagens que a política estatal pode oferecer a profissões qualificadas. A relação com os desqualificados, os derrotados, é sempre a mais difícil. Formam as massas vulneráveis a todo populismo. No momento crucial de decisão eleitoreira os grupos dominantes inimigos entre si de forma declarada, e inimigos ocultos do povo, tentam provar, em grande parte pela máquina midiática, quem é amigo do povo. Por isso já é hora de tentarem provar quem é mais bonzinho.

sábado, 15 de agosto de 2009

Quem é o inimigo?: novo blog busca colaboradores

por Djamilla Olivério &

Roberto Torres

Este pretende ser um blog com intencao política: definir quem sao os inimigos do povo brasileiro. Povo aqui sao todos aqueles cujas vidas nao podem ser trilhadas na base de privilégios herdados: os pobres que anseiam uma vida menos sofrida e menos humilhante, sem muita esperanca de deixar de fato a pobreza, e os trabalhadores pobres que sobem na vida sem poder entrar na complexa rede de privilégios dos estabelecidos. Numa „sociedade competitiva“ como a nossa, privilégios sao oportunidades economicas e edudacionais transmitidas em segredo entre uma minoria, criando um grave paradoxo dentro de uma sociedade que se diz democrática: o modo de vida dos que representam o país como classe dominante é valorizado como algo que nao pode ser desfrutado por pessoas comuns. A classe dominante nao acredita nos ideais que ela prega através da mídia para os outros. A boa vida consiste em desprezar tudo que nao seja exclusivo. A „boa nova“ nao pode ser transmitida para quem teve o azar de nascer do „lado de lá da vida“.

A atividade política pode ser dividida em duas dimensoes fundamentais: a profecia e a estratégia. Como profecia a política é o esforco de imaginar e caminhar rumo a um outro mundo, a uma outra forma de vida comum capaz de contemplar intesses ainda ignorados. Sem profecia, a política é amesquinhada na reproducao indefinida dos interesses vigentes, sem crédito dos excluídos, que nela nao veem nenhuma saída, e sem crédito dos incluídos, que nao querem que uma alternativa ao regime de privilégios seja sequer sonhada.

A ditadura da falta de alternativas desqualifica todo tipo de profecia como delírio e atrevimento de quem busca aventuras que nao valem a pena. O procedimentalismo instituído (a máxima de que devemos preservar as instituições) precisa destruir o poder da lideranca carismática para impedir que a simbiose entre os liderados e o líder produza um discurso capaz de se impor na vida democrática. A primeira grande batalha para que a democratizacao signifique mudanca é reagir ao poder da opiniao pública instituída que tenta calar as vozes que ela nao pode dirigir. A mídia hegemonica e seu público é o autoritárismo privado que deseja manter a heranca do autoritarismo público do regime militar.

Precisamos de uma imaginação de mundo que encontre no presente tanto as prefigurações do novo como a forca viva do autoritarismo conservador. Aí surge a outra dimensao da política, a estratégia. As forcas sociais que podem sustentar o surgimento do novo tendem a estar mais desarticuladas, e seu interesse no novo é um fato a ser construído pela credibilidade da profecia. Já as forcas sociais que sustentam o regime de privilégios reagem com muito mais coesao a tudo que possa ameacar o seu mundo, pois sao o produto deste mundo de privilégios. A política como estratégia é a tentativa de mostrar para o público desarticulado dos "sem privilégio" que existe uma forca articulada que é eficaz em defender os seus privilégios. Este blog quer ser um espaco para definir, redefinir, discutir como vive e funciona a forca social interessada em manter o mundo de privilégios no Brasil, ou seja, o inimigo de todo e qualquer projeto popular.

O Brasil é complexo, e os "sem privilégio" nem sempre percebem e sabem que estao do mesmo lado, de modo objetivo. Existem duas classes sociais que nao participam da rede de privilégios, da "Franca tropical" que é o Brasil para os herdeiros legítimos de uma certa classe média estabelecida: 1) a ralé de indivíduos pobres que no máximo conseguem levantar a cabeca para o alívio relativo de viver uma pobreza menos humilhante, menos expostos ao aguilhao da fome. Estao completamente alijados de sucesso escolar, economico, influencia política, e vida afetiva livre de necessidades imediatas. Depois 2) os trabalhadores pobres "batalhadores", indivíduos e famílias que conseguem uma estratégia minimamente bem sucedida para planejar o futuro, estimular o sucesso dos filhos e constuir a identidade a partir de um interesse moral no trabalho e nas relacoes de confianca e afeto. Os primeiros sao aqueles a quem grande parte da classe média estabelecida acha um absurdo o Estado assistir com menos de 200 reais por mes para a satisfacao das necessidades básicas através do Bolsa Família. Os vê como preguicosos, acomodados. Um estorvo que, no fundo, só deveria existir para fornecer empregadas domésticas e prostitutas. Os segundos, embora tendo sucesso na escola, no trabalho duro e honesto, é o sucesso incomodo para a classe média, que possui mencanismos para evitar que este sucesso chegue às posicoes sociais de maior prestígio e influência. A ascencao social dos pobres é vista como a aparicacao dos brasileiros que os legítimos estabelecidos nao querem convidar para seus círculos e apresentar aos amigos de bom gosto. Nao frequentam as mesmas escolas, nao possuem o mesmo lazer e creem em deuses tidos como menos autenticos pelos que creem no dom legítimo do privilégio. O forte crescimento das igrejas evangélicas é o melhor exemplo de como os batalhadores vindos de baixo buscam construir uma cultura de classe que marca uma distancia consciente com o mundo de privilégios e prazeres da classe média estabalecida.

A questao é que esta cultura de classe dos batalhadores parece estar sendo insuficiente para perceber que o privilégio que os separa da classe média estabelecida é mais nocivo para seus interesses do que a assistencia que o Estado pode dar ao núcleo duro da pobreza. É frequente se manifestarem contra o Bolsa Família, em nome de uma moral do trabalho que expressa a verdade cotidiana de seu modo de vida, mas que é uma mentira quando vem da boca dos privilegiados de sempre.

Hoje, a mudanca social que pode transformar radicalmente a estrutura da sociedade brasileira só pode acontecer se esta classe de batalhadores em ascencao perceber que o inimigo que vive do privilégio Estatal e privado, da rede que perpassa mercado e Estado, nunca foi e nem será a ralé do Bolsa Família, mas a grande parcela da classe média estabelecida que produz e consome a opiniao pública liberal que acusa o Estado e os "senhores feudais do Maranhao" para esconder o poder de sua complexa oligarquia. É preciso mais do que nunca identificar e investigar o inimigo político de todos que desejam um país onde ao menos deixe de ser natural a heranca de classe definir quem é gente e quem é instrumento e lixo de gente.

Partimos de tres pressupostos, que podem ser revistos ou nao ao longo da empreitada aqui proposta: 1) que esta forca social nao pode ser definida nem como os "políticos de brasília", os "senhores feudais" que a revista Veja aponta como o inimigo; e nem 2) como os grandes empresários e especuladores que se reuniriam com os políticos para montar uma rede simples e pequena de privilegiados. Esta forca do privilégio tem a participacao de políticos, empresários e especularodes, mas sua vitalidade nao é a soma da forca de cada um destes atores. A vitalidade da forca que mantem o privilégio é mais complexa do que isso e também é capaz de incluir um público que quase nunca se encontra com empresários, políticos ou especuladores. É um público que recebe os privilégios acreditando que se trata de mérito e que encontra na opiniao publicada da imprensa hegemonica o seu maior meio de aderir à rede complexa, impessoal, dos privilegiados. Mas os mecanismos que dao coerencia e forma a esta rede impessoal de privilégios sao se resumem à imprensa. Eles perpassam toda a vida cotidiana, de modo muito sútil e discreto ao olhar desatento. Mas, 3) apesar de nao ser "tramado de cima", existe, por parte dos privilegiados, um forte interesse em manter a rede de privilégios. Este blog quer ser um espaco para descrever e analisar os meandros do privilégio; nao somente os de Brasília, a ponta do iceberg. Mas tambem os de nossa cidade, nosso cotidiano, nossa escolas, nosso lazer, e, como interesses aparentemente díspares ou "inocentes", que sao trazidos nestes espacos cotidianos, se coordenam para manter a rede fechada.

Convidamos a todos os que tiverem o mesmo interesse a participarem desta empreitada. Antes de mais nada, ajudando a escolher um nome para o novo blog, que pretende se alocar na rede campista de blogs, mas que busca um alcance maior. Depois, para quem estiver disposto a escrever de vez em quando, a contribuir com textos, descriçoes, analises, cronicas, contos etc, sobre o modo de vida e meandros do privilégio de classe no Brasil. Penso, no enorme material que temos nos comentários de leitores da imprensa hegemonica, o que podemos selecionar de acordo com os temas ; nas experiencias de vida de cada um de nós; nos dramas dos privilegiados que a grande mídia exibe para produzir compaixao por parte dos dominados. Este nao é um trabalho para especialistas. Este é um trabalho para interessados, para quem tem vontade ao menos de mostrar quem sao como realmente vivem os que nao precisam de nenhum esforco para ganhar a vida neste país.